Urgências e Emergências em Saúde: perspectivas de profissionais e usuários – Armelle Giglio-Jacquemot


Descrição do livro:

Sobre prontos-socorros se conhece sobretudo a opinião de críticos. Profissionais da mídia escrita e visual apontam para as situações problemáticas nas quais se encontram essas unidades hospitalares: superlotação, escassez de recursos humanos e materiais, inadequação entre a oferta e a demanda de cuidados médicos de urgência. Por sua vez, atores do atendimento às urgências e emergências (profissionais, agentes e administradores da saúde, responsáveis pelas políticas sanitárias) lastimam o fato de os prontos-socorros enfrentarem uma demanda que os afastam de sua missão declarada, pois acabam atendendo situações de saúde que, na sua maioria, não exigem atendimento médico urgente. Diante desses problemas, denunciados com freqüência há anos, foi-se construindo um discurso, elaborado pelas autoridades sanitárias, por profissionais da saúde e reproduzido pela mídia, que acusa a população de fazer mau uso dos prontos-socorros e a designa como a grande responsável pela sobrecarga dessas unidades e pela desvirtuação da sua função. Os usuários não sabem o que é urgente; consultam no pronto-socorro e chamam a ajuda móvel de urgência para 'qualquer coisa'; cada um espera que seu caso seja rapidamente resolvido; a lógica da triagem escapa à maioria deles; a noção de 'bom uso' dos prontos-socorros é mal compreendida e mal aceita pelos doentes e suas famílias. Tal discurso não é comum somente no Brasil. Em suas grandes linhas, ele também é bastante difundido em outros países, cujas realidades socioeconômicas e culturais são bem diferentes, tais como, por exemplo, na Espanha (Allué, 1999), na França (Peneff, 1992, 2000; Jacquemot, 2000), no Canadá (Burnett & Grover, 1996), nos Estados Unidos (Grumbach et ai., 1993; Gill & Riley, 1996). Ele também não é novo: certas referências relativas à inadequação da demanda de atendimento às urgências e emergências, cuja literatura médica está repleta, remontam a mais de 150 anos (Hodgson apud Padgett & Brodsky, 1992).