Descrição do livro:
Ainda não entendemos o que é o neoliberalismo, e estamos pagando um preço altíssimo por isso. É esse
anseio de urgência que levou os pensadores franceses Pierre Dardot e Christian Laval a escreverem A nova
razão do mundo, obra que passa a limpo todos os lugares-comuns sobre a natureza do capitalismo
contemporâneo. Por meio de recursos analíticos pouco ortodoxos – que conciliam investigação histórico-social
e psicanálise, Foucault e Marx -, Dardot e Laval desfazem mitos e revelam o que há de novo no neoliberalismo:
uma racionalidade global – e não apenas uma doutrina econômica ou ideológica – que vem transformando
profundamente as sociedades de forma subterrânea e difusa, estendendo seu sistema normativo a todas as
relações sociais, sem deixar incólume nenhuma esfera da existência humana.Levando a sério a formulação de
Margaret Thatcher – A economia é o método. O objetivo é mudar a alma -, o livro descreve os assombrosos
contornos deste mundo em que o desejo é o alvo do novo poder. Dardot e Laval afirmam que a grande
inovação da tecnologia neoliberal é vincular diretamente a maneira como um homem é governado à maneira
como ele próprio se governa. Ao explorar as raízes e ramificações do pensamento neoliberal ao longo do
século XX, os autores destrincham de forma clara e precisa as implicações desse novo paradigma, em que a
economia torna-se uma disciplina pessoal. A figura central dessa nova racionalidade é o sujeito empresarial.
Cada indivíduo é uma empresa que deve se gerir e um capital que deve se fazer frutificar. O conceito define a
totalidade do que já foi chamado por estudos anteriores de sujeito hipermoderno, impreciso, flexível, precário,
fluido, sem gravidade, individualista. Na nova razão do mundo, todas as atividades devem assemelhar-se a uma
produção, a um cálculo de custo, aliado ao imperativo do sempre mais, que visa a intensificar a eficácia de
cada sujeito em todos os domínios: escolar e profissional, mas também relacional, sexual e assim por diante.
As atividades que permeiam a vida são concebidas essencialmente como investimento no interminável
processo de valorização do eu, sobre o qual o indivíduo é inteiramente responsável. O estudo do caráter
sistêmico dessa racionalidade permite analisar, para além do processo mais visível de privatizações, a
corrosão interna da própria dimensão pública e democrática dos Estados nacionais, à direita e à esquerda no
espectro político institucional. Para Dardot e Laval, o sistema neoliberal opera uma desativação sem
precedentes do jogo democrático, que está nos fazendo entrar no que chamam de era pós-democrática. Um
dos principais sintomas dessa ação é a mudança na concepção dos bens públicos, assim como os princípios
de sua distribuição. Direitos até então ligados à cidadania e historicamente estabelecidos como consequência
lógica da democracia política, como a proteção social, a igualdade de tratamento e a universalidade, são
questionados pela concepção consumista do serviço público de um sujeito ao qual a sociedade não deve
nada. A nova razão do mundo introduz formas sem precedentes de sujeição que constituem, para os que a
contestam, um desafio político e intelectual inédito. Combatê-la exige não se deixar iludir, fazer uma análise
lúcida dele. O conhecimento e a crítica do neoliberalismo são indispensáveis, sustentam os autores. Somente a
compreensão dessa racionalidade permitirá que se oponha a ela uma verdadeira resistência e que se inaugure
uma outra razão do mundo.