Descrição do livro:
Desde o título, Formas do nada não deixa dúvida sobre o jeito de Paulo Henriques Britto praticar a poesia. O
som aberto e incisivo dos “as” e a batida firme e séria do ritmo anunciam a pegada combativa de quem não
está para contemplações ou devaneios.
Sofisticado em seu uso da rima e da métrica, o poeta faz exercícios para melhor estourar a forma clássica: “A
realidade é um calhamaço insuportável?/ Tragam-me então resumos./ A vida que se leva é um filme
inassistível?/ Vejamos só os anúncios.// São os limites do corpo intrusões malignas/ de um demiurgo
escroto?/ O corpo não é preciso, e o espírito é impreciso:/ eu não é um nem outro”.
A inteligência busca o sentido das coisas e quase teme não encontrar nenhum. “Quase” porque o temor se
transforma em força e desafio diante do ilimitado: o poeta, que se vê frágil e irredutível, trata de organizar o
mundo com sua voz, com a qual captura o que talvez viva na sensação de vazio e sem sentido.
A poesia de Paulo Henriques Britto, permeada pelo humor irônico de quem quase não se permite ter esperança,
opera uma prestidigitação impecável e engana o leitor: diz produzir “sofríveis simulacros de sentido”, mas na
verdade produz vida palpável e sonora.