Descrição do livro:
A Ilha de Hélice – “A Ilha Standart singrava muito devagar as águas do Pacífico, que nessa época do ano
justifica seu nome. Habituados há vinte e quatro horas a esse deslizar sereno, Sebastião Zorn e seus
companheiros já nem mesmo percebiam que estavam navegando. Por mais poderosas que fossem as suas
centenas de hélices, movidas por dez milhões de cavalos, transmitia apenas ligeira vibração pelo casco
metálico da ilha. A cidade do Bilhão não estremia sob a sua base. Nada se sente nas oscilações do mar, que,
contudo, afetem os mais fortes couraçados.”
Mais informações sobre a obra
Em “A ilha de hélice”, Júlio Verne reúne dois de seus assuntos prediletos: a vida em um ambiente restrito (o
enclausuramento) e a idéia da reconquista do paraíso.
Casam-se, na narrativa, dois temas: o do éden, o paraíso terrestre reconquistado, e a idéia de que o homem
ainda não faz por merecê-lo. E neste último caso, Verne aciona igualmente a sátira: ao mesmo tempo que
exalta essa obra-prima da técnica, transforma seus habitantes num retrato da humanidade, pois a ilha é palco
de uma luta interna, desarrazoada, que termina por destruí-la.
As duas famílias mais importantes do lugar disputam ferozmente o domínio total da ilha, e Verne explora ao
máximo essa divisão maniqueísta, não raro tecendo comparações com a Guerra de Secessão dos Estados
Unidos, que muito o impressionara. Vai ainda mais longe, introduzindo o tema de Romeu e Julieta: o filho de
uma das famílias ama a filha da outra; é claro que nenhuma das famílias deseja o romance deles.
A catástrofe geral que acaba por destruir a ilha é fruto da posição intransigente dos dois chefes de família, que
pensam exclusivamente nos seus interesses pessoais. Júlio Verne quis, evidentemente, apontar para o perigo
de posições extremadas em blocos antagônicos, quer no terreno político-econômico, quer na faixa religiosa. E
nem se diga, infelizmente, que tais preocupações estão ultrapassadas…